Olha gente, pelo que entendo, a função desses RCs (normalmente denominados Snubbers) é em parte suprimir transiêntes, mas principalmente preservar contatos quando a carga é do tipo indutiva, ou seja suprimir variações rápidas de tensão (dv/dt). Quando digo rápidas, quero na realidade dizer da ordem dos pentelhésimos de segundo (em geral de 45ns a 5us).
O que ocorre é que, o indutor se comporta como uma mola (fazendo uma analogia mecânica). Ao energizá-lo (como ocorre em solenóides e bobinas de contatores utilizados em automação) injetamos energia nesse indutor (como se comprimíssemos a mola). Ate aí tudo bem. Ao deixar de energizá-lo, as forças contidas no indutor precisam ser dissipadas por algum meio (como se soltássemos de repente a mola). Imaginem o que acontece quando soltamos uma mola comprimida, a tendência da mola seria pular fora, ou seja dissipar a energia contida. Eletricamente, quando desenergizamos um indutor, o que ocorre é o aparecimento de uma faísca sobre os contatos, cuja energia pode ser suficientemente grande como para fundir os metais dos contatos, ou aos poucos ir minando sua superfície.
Cientificamente falando, quando se inicia a abertura do contactor, a pressão entre os contatos principais (fixos e móveis) diminui. Com isso, aumenta a resistência de contato e, por tabela, a queda de tensão. Também aumenta a temperatura na zona de contato, de tal maneira que se forma uma ponte de metal fundido entre o contato fixo e o contato móvel. Como os contatos continuam a se separar, esta ponte é estirada, e aumenta a vaporização do metal e a ionização do espaço entre os contatos, o que favorece a formação de um arco elétrico entre os dois contatos, que atuam como eletrodos.
Em um contator, o arco de ruptura deve extinguir-se rapidamente para evitar o desgaste dos contatos. Para tanto, a idéia é aumentarmos a resistência elétrica do próprio arco, ou seja, a queda de tensão através da zona ionizada. Para isto, provoca-se um alargamento do arco, ou seja, um aumento no seu comprimento, o que, para um mesmo gradiente de tensão, aumenta a tensão necessária para que o arco se mantenha. Complicado não? É mesmo !
Em outras palavras, a idéia então é dissipar essa energia através de um elemento que seja rápido o suficiente como para evitar a faísca (ou alargar o arco), como por exemplo uma rede RC série, ou snubber.
Para que o snubber funcione a contento, o certo seria conhecermos o transiênte, mas cá entre nós, além de ser relativamente difícil de medir (fora o trabalho que daria e o tempo que se gastaria), mais ou menos já se tem uma idéia prática da coisa, pelo que acabam se adotando valores meio que padronizados (empiricamente), mas que nem sempre funcionam como deveriam. Digamos que o assunto é meio espírita ou então uma questão de fé

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O importante é saber que, para cargas altamente indutivas, o valor do resistor é grande e o do capacitor pequeno. Enquanto que para cargas de baixa indutância o resistor é pequeno e o capacitor é grande. Grande e pequeno aqui é uma mera expressão, pois os resistores (na prática) variam entre 12R e 560R, e os capacitores entre 4,7nF e 330nF. Contudo, evidentemente dependem da carga. E atenção a isto, é a carga que importa.
Sinteticamente a função do capacitor no snubber é absorver a tensão do transiênte, e a do resistor é limitar a corrente de descarga do capacitor.
O que pude observar ao longo dos tempo de vivência em chão de fábrica, foram snubbers que variam de 39Rx2W com 100nFx400V, a 220Rx5W com 47nFx650V. Entretanto, cada caso é um caso.
Em relação à supressão de transiêntes, o melhor é utilizar varistores ou transzorbs (uma espécie de zenners), e estes devem ser dimensionados em função da tensão e da duração dos transiêntes que se desejam suprimir.
A intenção não era fazer um tratado a respeito do assunto, mas acho que um pouco de teoria ajuda muito na prática (hehehe).
... e assim falou Zaratustra !